20100414

Heyk Pimenta

O artista profissional para sê-lo tem que conhecer quantos arcabouços instrumentais? 1 - O de ser artista, conhecer técnica e poéticas que envolvam seu ofício de criar lugares mentais e categorias de pensamento, objetos de contemplação estética e de reflexão, o artista tem que ser um atualizador de potencialidades virtuais. 2 – O de ser projetólogo, pelo advento nos últimos vinte anos de um mecanismo de financiamento à arte que tem cara de mecenato, mas no fim a financia com dinheiro público e que exige justificativas, contrapartidas, objetivos e apresentações em um novo idioma, o da projetologia. 3 - O de relações públicas, deverá ter boa relação com captadores de recurso, advogados e contadores, e claro, marqueteiros das empresas, que no papel são as, financiadoras da arte no Brasil. Nenhum desses caras citados tem qualquer coisa a ver com o mundo da arte, porém se colocam como intermediários instrumentais para a viabilização dos processos artísticos, sim cobram pedágio, e acredite eles e não os artistas foram os que mais lucraram com esse mecanismo que vem junto com a democracia no Brasil, recente. 4 – O de professor, ainda assim: sabendo ser artista, projetólogo, relações públicas, o artista não paga suas contas na íntegra, e precisa dar aulas: de auto cad, de dança, de violão, oficina de poesia, pintura, edição de vídeos, e aí cumpre ainda um outro papel: o de formador de público crítico ou interessado no mínimo, para contemplar as artes que ele, o artista desenvolve, mesmo que esse aluno não venha a ser assim tão artista quanto seu professor.

O artista então, mesmo formando alguns interessados no ofício acaba sendo além de tudo isso, público. Ele é a maior parcela presente no cinema de autor, nos espetáculos de teatro e dança contemporâneos, o único que lê autores vivos, o único que escuta música instrumental e experimental, o único que vai a galerias e assiste a performances. Logo, o artista se torna além do já exposto, o cliente final de todo o processo artístico. Pesquisa sua linguagem para desenvolvê-la e tem suas questões para com elas oferecer essas tais novas categorias, para isso bate projetos, projetos que nem o pagam bem, e nem formam público, então dá aulas para completar o orçamento e acaba criando aluninhos que vão vê-lo se apresentar, tudo isso para que o artista possa fazer arte. E no fim o artista na plateia olha o espetáculo do outro artista e pensa: esse cara não entendeu nada, com isso não vai tocar ninguém. Acho que outro ponto precisa ser incluso: 5 - o de interlocutor, dada a fragmentação da contemporaneidade; todos falam línguas outras e ninguém se entende, e nem se sente inquieto com as inquietações do outro.

Talvez essas novas já velhas e caducas condições para o exercício do ofício artístico sejam um jeito pra fomentar pesquisas artísticas em profundidade, pra formar olheiros pra arte, pra encher bolsos de advogados, para fazer o artista ir ver o amigo artista no seu espetáculo, mas acho que falta alguma coisa.

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